segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O caso Lance Armstrong: por Jeferson Mário




Este artigo não é sobre bicicleta; é sobre vida. No livro autobiográfico "It’s not about the bike" - escrito por Sally Jenkins e lançado em 2000 - o ciclista norte-americano Lance Armstrong expõe ao público sua luta contra o câncer e sua plena recuperação da doença. Heptacampeão do Tour de France (1999 a 2005) e campeão mundial de estrada em 1993, entre outros títulos, o atleta mostrava-se como exemplo de superação e vida.
Da vitória sobre o câncer originou, em 1997, a Fundação Lance Armstrong (atual Livestrong), entidade que fornece apoio a vítimas de câncer, com geração de fundos para pesquisa e combate à doença. Foram arrecadados mais de US$ 500 milhões desde o surgimento da instituição.
De herói...
Em 10 de setembro de 2012, a Agência Antidoping dos Estados Unidos (Usada) divulgou relatório sobre o ciclista. Nele, de mais de mil páginas, consta que foram ouvidas 26 testemunhas (destas, 11 ex-companheiros seus da equipe US Postal Service) e colhidas evidências de pagamentos financeiros, emails e testes laboratoriais, comprovando a posse, uso e distribuição de drogas ilícitas pelo atleta durante parte de sua trajetória como profissional. Segundo a agência norte-americana, houve o “mais sofisticado, profissionalizado e bem sucedido programa de doping que o esporte jamais viu”.
Dias depois, as conseqüências da divulgação do relatório. Em 17 de outubro, Lance anunciou sua saída do cargo de presidente da Livestrong, para limitar danos para a instituição; no dia seguinte, término dos contratos das empresas Oakley, Nike, Sram, Trek, FRS, Anheuser-Busch, 24 Hour Fitness, Honey Stinger e Giro com o ciclista; e em 22 do mesmo mês, a União Ciclística Internacional (UCI) confirmou a retirada de todos os seus títulos, banindo-o do esporte.
...a vilão.
Da vitória sobre o câncer até o desterro do ciclismo a imagem de Lance foi moldada ao sucesso pessoal e profissional. A mentira só dura enquanto a verdade não chega. Foi o que aconteceu com ele.
Como o artigo não é sobre bicicleta o norte-americano trilhou o mesmo caminho de vários outros ciclistas profissionais, que, no decorrer de suas jornadas, foram acusados de e pegos por fazerem uso de substâncias proibidas para melhoramento de performance. Até aqui nada demais num esporte marcado por confissões e denúncias várias sobre posse e uso delas. Lance foi simplesmente mais um atleta que concordou com as regras do sistema, sistema este marcado por pressão dos patrocinadores por vitórias, visando o retorno do capital investido por meio de uma imagem sucesso. Ele aceitou estas regras porque tinha interesse e viu aí vantagens.
Acontece que, ao contrário de outros ciclistas, Lance Armstrong construiu sua imagem de grande vencedor de sete edições do Tour de France à Livestrong. É justamente aí um ponto interessante.
Como que um homem que contribuiu sobremaneira para a luta contra o câncer pôde utilizar-se de posturas antiéticas para combater a doença? É como se o meio (dopar-se e mentir para o público) justificasse o fim (sua luta contra o câncer). São as contradições humanas.
Será que a Livestrong teria conseguido arrecadar US$ 500 milhões se não fossem os sete títulos do Tour de France e o trabalho intenso do ciclista à frente da instituição? É bem provável que não. Por uma questão muito simples: exemplos de superação de vida existem aos montes. São casos pessoais sem maiores divulgações midiáticas.
Ao contrário de indivíduos comuns que se curaram Lance Armstrong sempre fez questão de divulgar sua história, ministrando palestras e participando de atividades diversas.
O assunto, por ser muito recente, é palpitante, com discussões marcadas por emoções que se afloram diante de fatos duros. Fãs defendendo seus ídolos e críticos crucificando-os, utilizando-se dos mais diversos argumentos. No entanto, um pensamento: O tempo é o senhor da razão.
Por: Jeferson Mário