Educação no trânsito para ciclistas
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Há alguns dias, navegando pela internet, deparamo-nos com um flagrante postado por uma leitora:
Fonte:
http://g1.globo.com/vc-no-g1/noticia/2011/05/leitora-flagra-ciclistas-fora-de-ciclovia-em-perigosa-de-brasilia.html
01/05/2011 12h55 - Atualizado em 01/05/2011 19h12
Leitora flagra ciclistas fora de ciclovia em via perigosa de Brasília
Local possui faixa exclusiva para ciclistas no acesso à Ponte JK.
'Fiquei impressionada com o que vi ', diz internauta.
'Fiquei impressionada com o que vi ', diz internauta.
Elaine CarvalhoInternauta, Brasília (DF)
A leitora Elaine Pereira Barbiéri de Carvalho flagrou três ciclistas circulando na rodovia que dá acesso à Ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília, que liga o Lago Sul, Paranoá e São Sebastião à parte central do Plano Piloto, através do Eixo Monumental. Segundo a médica Elaine, no local há uma ciclovia, que não era utilizada pelos ciclistas.
A foto foi feita por volta das 9h30 da manhã de sábado (30).
A foto foi feita por volta das 9h30 da manhã de sábado (30).
"Fiquei tão impressionada com o que vi que resolvi tirar uma foto. Três ciclistas estavam na terceira faixa e havia outro mais para o meio. Nenhum deles na ciclovia. Os ciclistas pedem tanto faixa exclusiva, mas então, ciclovia, para quê?", disse Elaine.
Trecho de via possui ciclovia, que não era usada pelos ciclistas (Foto: Elaine Pereira Barbiéri de Carvalho/VC no G1)
"Isso é um caso flagrante de imprudência por parte dos ciclistas, visto que se trata de uma via de alta velocidade", acrescentou ElaineO assunto foi extremamente debatido e falado nos meios de comunicação que envolvem o ciclo-ativismo. A revolta de alguns misturou-se com o apoio ä leitora por parte de outros.
Analisemos o caso concreto:
Todos os sábados e domingos pela manhã parte do início do lago sul o famoso “Pelotão do lago”, que no sábado faz um percurso com subidas e no domingo um percurso de planícies. A foto tirada foi na famosa “subida da JK” (e também apelidada de 8%, devido a sua inclinação), na parte de descida do percurso. Como se observa, os ciclistas estão em pelotão e fora da ciclo-faixa (e não ciclovia, pois não é via exclusiva para bikes).
E ae?! Os ciclistas estão certos ou errados?
Para isso, primeiramente analisemos o que diz a legislação sobre as bicicletas:
No Anexo I, do Código de Trânsito Brasileiro consta:
ANEXO I
DOS CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Para efeito deste Código adotam-se as seguintes definições:
ACOSTAMENTO - parte da via diferenciada da pista de rolamento destinada à parada ou estacionamento de veículos, em caso de emergência, e à circulação de pedestres e bicicletas, quando não houver local apropriado para esse fim.
BICICLETA - veículo de propulsão humana, dotado de duas rodas, não sendo, para efeito deste Código, similar à motocicleta, motoneta e ciclomotor.
BICICLETÁRIO - local, na via ou fora dela, destinado ao estacionamento de bicicletas.
PASSEIO - parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas.
Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.
Parágrafo único. A autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via poderá autorizar a circulação de bicicletas no sentido contrário ao fluxo dos veículos automotores, desde que dotado o trecho com ciclofaixa.
Art. 59. Desde que autorizado e devidamente sinalizado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via, será permitida a circulação de bicicletas nos passeios.
Voltando então ao caso demonstrado, os ciclistas estão ou não estão errados?
A primeira vista, diríamos que sim. Estão errados por trafegarem em via de veículos quando existe a ciclofaixa para uso dos ciclistas. Porém, analisando disposto na norma mais atentamente, lemos que ela diz: “ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores”.
Quem anda nessa via, principalmente treinando forte em speed (que possui pneus extremamente finos – com cerca de 2,5cm de contato com o chão – e com mais de 100 libras de pressão, atingindo uma velocidade de 70km/h nessa descida), sabe o quão precária é a manutenção dela. A começar pela péssima qualidade do asfalto, que apresenta ondulações que colocam em risco a pilotagem do ciclista (o que não acontece na via automotiva). Outro problema, é a manutenção em si. Principalmente em épocas de seca, em que não há a chuva para lavar o asfalto, deparamo-nos com cacos de vidro e restos de peças de carros batidos, como parachoques e lanternas no chão. Outro grande problema que comumente nos deparamos é o uso incorreto de outros ciclistas (“bicicleteiros”, popularmente chamados) que, por simples desconhecimento das normas, acabam subindo na contramão nesta via.
Dessa forma, interpretando-se a lei e observando-se o fato em si (a precariedade do trecho), fica claro que não é possível a utilização dessa via em circunstâncias de treino que envolvam altas velocidades fazendo com que os ciclistas flagrados na foto estejam sim, corretos. Em casos, por exemplo, que se desça em mountain bike, em uma velocidade mais moderada, é passível de se utilizar esta ciclovia.
Dessa forma, diante de toda a discussão e pela infeliz forma do “flagrante” colocado pela leitora, percebe-se claramente a falta de conscientização da população quando o assunto é mobilidade sobre duas rodas. Infelizmente, a população carece muito de informação.
Orgulho – sem dúvida a maior chaga da humanidade – é um dos fatores que tanto barra a evolução do ser humano, em todas as esferas. No nosso caso, não é diferente. Quantas vezes estamos treinando, andando forte perto de um meio-fio, e um motorista de ônibus (ah! Os motoristas de ônibus!) fazem questão de colocar o grande veículo na frente e parar logo no ponto, numa atitude covarde, abusando do seu tamanho? Não custa nada, obviamente, que ele coloque o veículo atrás do ciclista e chegue com uma velocidade mais moderada no ponto. O que se perdeu com essa atitude? 2 segundos?...
Mas pra ciclistas que acham que estão sempre corretos, aqui fica um puxão de orelha. Muitos também, assim como os maus motoristas, se acham os donos das vias. Saem distribuindo elogios por onde passam, sem, no entanto, perceberem que a bicicleta é sim um veículo de pequeno porte, difícil de ser vista (principalmente a noite, sem estar com luzes de sinalização ou “olhos de gato” para facilitarem a visualização). A bicicleta é facilmente encoberta pelo famoso “ponto cego” dos carros. Por isso, é importante que os ciclistas partam do pressuposto que sempre estão no tal ponto cego, principalmente quando se trata de acesso a vias de alta velocidade. Observem a reação do motorista antes de seguirem em frente. LEMBREM-SE: A BICICLETA SEMPRE SAI PERDENDO QUANDO SE TRATA DE UM CHOQUE!
Muitos cicloativistas mais puristas, inclusive, não defendem a criação de ciclovias e ciclo-faixas. Mas sim, que haja uma maior conscientização da população quando se trata de respeito aos ciclistas. Com certeza, não adianta que tenhamos quilômetros e quilômetros de ciclovias/ciclofaixas. Em algum momento, o ciclista terá que adentrar em vias de trânsito com circulação de veículos automotores e, neste momento, caso a ignorância continue reinando, o ciclista sairá perdendo.
CONSCIENTIZAÇÃO – A CHAVE DO SUCESSO!!!
Sem dúvida, essa é a chave para todos os problemas. Quantas vezes nos deparamos com ciclistas, que por pura falta de informação, acabam transitando no lado contrário da via, correndo sérios riscos de acidentes. Ou muitas vezes, em vias destinadas apenas para pedestres, fazendo o que muitas vezes criticamos que os carros acabam fazendo conosco?!
Com certeza, políticas públicas, em meios de comunicação fariam com que a população entendesse melhor do que se trata o transporte sobre duas rodas.
Destacamos aqui nossa admiração pelo Grupo “Pedal Noturno DF” http://www.pedalnoturnodf.com.br/), que sempre procura cativar as boas práticas no tânsito, ensinando os novos integrantes do grupo, as normas de boa conduta, principalmente quando se trata de visualização dos ciclistas.
Artigo com contribuição de Denir Miranda, do grupo Pikidatrilha.
Comentários
Resalvo apenas o fato de citar-se que os cilcista em treinamento estavão corretos. Na verdade, a meu ver, o assunto carece de uma outra discussão, as vias públicas são locais adequados pra treinar????? Provavelmente HOJE são os menos piores, mas são os ideais????? Pense nisso na proxima vez que estiver treinando, e lembre-se há outros atores envolvidos no seu dia a dia e a maioria deles nem sabe o que é treinar, e dificilmente um dia saberá.
As vias exclusivas devem ser compartilhas entre os mais diversos cilcistas e as demais vias com os outros atores do transito (motoristas, cilcistas e PEDESTRES).
Bom pedal a todos.
Os bons exemplos devem ser citados, e o PNDF é uma ótima escola para os que querem se iniciar no maravilhoso "mundo do pedal".
EDUCAÇÃO.
Esta é a palavra mágica que nos definirá como seres civilizados que convivem pacificamente enquanto partícipes de uma sociedade multifacetada.
Os condutores dos diversos modais de transporte devem SEMPRE LEMBRAR que a vida é a PRIORIDADE PRIMEIRA.e, portanto, o pedestre, como parte mais frágil, tem a regalia sobre todos os outros.
PROTEJA A VIDA!